terça-feira, 30 de julho de 2013

Devaneios



O chuveiro escaldante como de costume,a água descia-lhe pelo corpo e escorria para o ralo.
___Como queria que suas mais internas angústias também se esvaíssem como aquela água suja que se ia para um novo ciclo e nunca mais retornava.
___Como desejava a calma serena do seu ser agora revolto!___esbravejou algo baixinho,esfregando vigorosamente o rosto com a esponja.
___Por que não era possível lavar a alma?
___Pois devia ser!
      Observou ao redor,o banheiro precisava de reformas concluiu; lançando um segundo olhar para a parede récem-concertada,porém ainda sem pintar com o reboco à mostra. Com as mãos pegava a água e lançava na direção da parede  desprotegida de tinta,o material extremamente absorvente e logo o lugar se tornava seco novamente.Tal como estava antes. Como seu coração que, vivia absorvendo todos os gêneros de emoções. Das mais tocantes às sutis! O namoro de oito anos havia terminado recentemente.
___Você bem sabe que isso nunca foi namoro sério;era pura enrolação!__exclamou sua velha amiga Ana.
      Depois de uma forte depressão que; o psicólogo dissera tratar somente de uma tristeza passageira tinha vontade de se arrumar e sair. O reloginho despertador sobre a pia marcava seis da tarde,havia se passado quarenta minutos desde que entrara no box e iniciara um diálogo silencioso com a água.Ou seria monólogo;já que a água é um fenômeno inanimado? Dias atrás o tempo lhe parecera cruel,assustador,cafajeste.Mas agora não parecia ser mais o fim,tudo fazia um sentido. Espera aí;tempo cafajeste! Não,lógicamente que não.O tempo também é um ser inanimado.O tempo não pensa,não calcula o mal que fará com atitudes desrespeitosas,não planeja,não pensa,não existe na categoria racional.
___Sai desse marasmo,a fila anda!___dissera sua vó bem moderna para a idade.___Mas com ela não era bem assim,a fila anda!
___Como assim a fila anda vó!___respondera brava com a situação que ,para quem está de fora é sempre mais fácil e simples. Jamais pensara desse jeito,se tivesse que acontecer um novo e verdadeiro amor que acontecesse,mas não havia pressa.Apesar de que seu coração mantinha a ferida ardida,aberta,teimosa em não cicatrizar. Enfim fechou o registro de água,enrolou-se na toalha e encaminhou até o quarto. Ligou a tevê para desviar os pensamentos enquanto se arrumava.
    Dois pingos de Chanel N-5 atrás das orelhas,dois sómente;já bastava. Sua mãe havia trago o frasco famoso da última viagem à Paris.Havia amado o presente. Porém o antigo namorado era alérgico e não gostara,pois todas as vezes que ela usava algumas gotas ele tinha ataque de espirros e ruborização na face.Agora fazia todo sentido usá-lo;sinônimo de liberdade e individualidade pra usufluir de seus verdadeiros gostos,do que realmente apreciava sem muita preocupação com uma segunda opinião.
    Escolheu uma roupa básica,calça jeans e camisa branca de linho bordada.Não queria aparentar estar à caça. Um sapato de salto para deixar a silhueta mais elegante,os longos e lisérrimos cabelos negros ao ar livre era o suficiente para que ela deixasse de ser a deprimida da semana e transmitisse a imagem de uma mulher interessante.
    Estava pronta.
    Ana iria pegá-la em dez minutos.
___Talvez aquela noite trouxesse-lhe paz interior. Algo lhe sorrisse oferecendo o lado bom da vida.
    Ouviu duas buzinadas e suspirou aliviada e agradecida pela coragem repentina que fizera-na mover-se do lugar onde outrora estivera estagnada.
   Desceu as escadas correndo até a porta de entrada e sorriu para Ana.
   Seria meia hora até o local da festa. Via-se agora excitada com a possibilidade de reviver o passado fantástico que compartilhara com amigos da época do Ensino Médio.
   Com certeza seria um momento legal!___pensou.
   Muitas histórias para relembrar e recentes fatos para esquecer. Sim;seria uma grande noite!
   O lugar que haviam alugado para a festividade era suntuoso,espaçoso e elegante. Ana adentrou o portão.Cíntia reconheceu de imediato vários amigos,antes eles eram sómente uns meninos bobos e tímidos,com espinhas na face e voz em formação. Mas confirmava agora que; eles haviam evoluído depois de todos aqueles anos. Interessantes semblantes;podia ver.
   Enquanto descia do veículo lançou um olhar para o rapaz de postura longilínea de pé e com uma taça de líquido vermelho nas mãos;neste momento ele se vira e dirige-lhe uma piscadela marota.
 ___Nossa! Era Daniel,o garoto mais popular daquela época no Colégio San Martim. Bem,não estava na fila;mas se o destino automaticamente a colocasse e guiasse seus passos para frente, ficaria agradecida.
Oh,sim seria uma grande noite! Adeus depressão!___suspirou já gostando do ambiente que observava.

*Dani Cristina
Obrigada por estar lendo.
Até a próxima.
Sucesso com as palavras;
Um abraço!

sábado, 13 de julho de 2013

Trecho de O Pequeno Príncipe, de Antoine Saint-Exupéry

 
*Hoje eu trago o trecho de um livro emocionante e cheio de sabedoria que merece sempre ser relido ...
 
Por meio de uma narrativa poética, o livro busca apresentar uma visão diferente de mundo, levando o leitor a mergulhar no próprio inconsciente, reencontrando sua criança. !!!-Google Books
 
 
 
O pequeno príncipe atravessou o deserto e encontrou apenas uma flor. Uma flor de três pétalas, uma florzinha insignificante....
- Bom dia - disse o príncipe.
- Bom dia - disse a flor.
- Onde estão os homens? - Perguntou ele educadamente.
A flor, um dia, vira passar uma caravana:
- Os homens? Eu creio que existem seis ou sete. Vi-os faz muito tempo. Mas não se pode nunca saber onde se encontram. O vento os leva. Eles não têm raízes. Eles não gostam das raízes.
-Adeus - disse o principezinho.
-Adeus - disse a flor.
O pequeno príncipe escalou uma grande montanha. As únicas montanhas que conhecera eram os três vulcões que batiam no joelho. O vulcão extinto servia-lhe de tamborete. "De uma montanha tão alta como esta", pensava ele, "verei todo o planeta e todos os homens..." Mas só viu pedras pontudas, como agulhas.
- Bom dia! - disse ele ao léu.
- Bom dia... bom dia... bom dia... - respondeu o eco.
- Quem és tu? - perguntou o principezinho.
- Quem és tu... quem és tu... quem és tu... - respondeu o eco.
- Sejam meus amigos, eu estou só... - disse ele.
- Estou só... estou só... estou só... - respondeu o eco.
"Que planeta engraçado!", pensou então. "É completamente seco, pontudo e salgado. E os homens não têm imaginação. Repetem o que a gente diz... No meu planeta eu tinha uma flor; e era sempre ela que falava primeiro."
Mas aconteceu que o pequeno príncipe, tendo andado muito tempo pelas areias, pelas rochas e pela neve, descobriu, enfim, uma estrada. E as estradas vão todas em direção aos homens.
- Bom dia! - disse ele.
Era um jardim cheio de rosas.
- Bom dia! - disseram as rosas.
Ele as contemplou. Eram todas iguais à sua flor.
- Quem sois? - perguntou ele espantado.
- Somos as rosas - responderam elas.
- Ah! - exclamou o principezinho...
E ele se sentiu profundamente infeliz. Sua flor lhe havia dito que ele era a única de sua espécie em todo o Universo. E eis que havia cinco mil, iguaizinhas, num só jardim!
"Ela teria se envergonhado", pensou ele, "se visse isto... Começaria a tossir, simularia morrer, para escapar ao ridículo. E eu seria obrigado a fingir que cuidava dela; porque senão, só para me humilhar, ela seria bem capaz de morrer de verdade..."
Depois, refletiu ainda: "Eu me julgava rico por ter uma flor única, e possuo apenas uma rosa comum. Uma rosa e três vulcões que não passam do meu joelho, estando um, talvez, extinto para sempre. Isso não faz de mim um príncipe muito poderoso..."
E, deitado na relva, ele chorou.
E foi então que apareceu a raposa:
- Bom dia - disse a raposa.
- Bom dia - respondeu educadamente o pequeno príncipe, olhando a sua volta, nada viu.
- Eu estou aqui - disse a voz, debaixo da macieira...
- Quem és tu? - Perguntou o principezinho. - Tu és bem bonita...
- Sou uma raposa - disse a raposa.
- Vem brincar comigo - propôs ele. - Estou tão triste...
-Eu não posso brincar contigo - disse a raposa. - Não me cativaram ainda.
- Ah! Desculpa - disse o principezinho.
Mas, após refletir, acrescentou:
- Que quer dizer "cativar"?
- Tu não és daqui - disse a raposa. - Que procuras?
- Procuro os homens - disse o pequeno príncipe. - Que quer dizer "cativar"?
- Os homens - disse a raposa - têm fuzis e caçam. É assustador! Criam galinhas também. É a única coisa que fazem de interessante. Tu procuras galinhas?
- Não - disse o príncipe. - Eu procuro amigos. Que quer dizer "cativar"?
- É algo quase sempre esquecido - disse a raposa. Significa "criar laços"...
- Criar laços?
- Exatamente - disse a raposa. - Tu não és ainda para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu também não tens necessidade de ti. E tu também não tens necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo...
- Começo a compreender - disse o pequeno príncipe. - Existe uma flor... eu creio que ela me cativou...
- É possível - disse a raposa. - Vê-se tanta coisa na Terra...
- Oh! Não foi na Terra - disse o principezinho.
- A raposa pareceu intrigada:
- Num outro planeta?
- Sim.
- Há caçadores nesse planeta?
- Não.
- Que bom! E galinhas?
- Também não.
- Nada é perfeito - suspirou a raposa.
 
*Antoine Saint-Exupéry
Obrigada por sua visita.
Sucesso com as palavras.
Um abraço!!!