terça-feira, 2 de setembro de 2014

A Velhinha do Baton Vermelho


Aquele dia eu estava disposta a perambular pela cidade,observar as vitrines,comprar umas peças novas de roupas e visitar o meu favorito "sebo", pois lá sempre havia um livro já maltrato em seu exterior mas ostentando grandes riquezas em seu interior. Beirava as quatro da tarde e eu não tinha nenhum compromisso que fosse inadiável a me esperar em casa,então me pus a perambular mais. Adentrava e saia dos  becos característicos daqueles camelôs que ofereciam vestes em tecidos pobres e coloridos. No entanto eu amava;sempre se achava algo útil em meio toda aquela tralha chinesa e paraguaia.

___Cinco calcinhas!!!  Só onze reais!!! ___esbravejava o moço locutor balançando lá no alto as peças.

Lancei-lhe um olhar e não pude deixar de esboçar um sorriso ao mesmo tempo que balançava a cabeça contrária ao seu oferecimento. Em minhas mãos já três sacolas com chapéus de palha,meias soquete,velas aromatizantes e bichinhos em gesso para o jardim.

Ainda paro na barraca de temperos e decido que já é hora de ir embora.

Defronte uma loja de objetos religiosos uma senhora desperta a minha atenção de imediato;vestida elegantemente com linho fino,cabelos fartos e branquíssimos presos em um coque bem no alto da cabeça. Mantinha se levemente curvada na lateral devido as sacolas abarrotadas de bonecas que ela sustentava em uma das mãos. Logo senti uma simpatia por aquela senhora invadir-me. Não havia percebido que estava parada a observá-la,neste momento ela se vira e sorri para mim,me pego apreciando seus lábios, ainda bem desenhados apesar da idade e pintados de vermelho.

Devolvi o sorriso.

E quando certifiquei que ela se distraíra eu me pus calcular sua idade...uns setenta e oito no mínimo. Ela já vinha saindo e parecia seguir em direção ao mesmo caminho que eu.

___ A senhora está indo para lá?___  perguntei apontando a direção da minha casa.
___ Oh sim;seguindo para lá. ___ respondeu ela.

De pronto eu ofereci para levar a metade de suas sacolas.
Seguimos abordando vários assuntos,entre eles a questão da nova  maneira que a cidade teria de arrecadar dinheiro e colaborar com novos empregos já que um grande clube recreativo estava sendo construído.

___ Pois sim....teremos novas fontes;e isso é muito bom.___ concordava ela sempre de um modo muito particular e simpático.

Enfim chegamos em sua casa.Fui convidada à adentrar o espaço,inevitável não observar ao redor;quadros com retratos vintage de família me vigiavam de todas as paredes.
Ela se aproximou e pegou suas sacolas,o que me fez lembrar novamente da grande quantidade de bonecas,me percebi intrigada já que a senhora havia me confidenciado morar sozinha e não ter netos e nem havia como; já que não pudera ter filhos.

Me vi questionando.
___ Desculpe-me a curiosidade senhora,mas para quem são estas bonecas?
___ Eu dou para os abrigos infantis filha.
 fiquei emocionada e apoiei:
___ Que bonito o gesto!
___ Para mim não é nenhum sacrifício;adoro ver seus olhos de alegria a me agradecer quando vou lá.
___ Ahhh,deve ser muito gratificante mesmo.___ firmei o apoio.

Em meio a conversa ela um pouco desconcertada me diz não poder oferecer-me um café ou chá pois haviam acabado todo o estoque em sua despensa , uma amiga traria mais tarde.
Aceitei uma água.Visando a política da boa vizinhança a convidei para tomar um café em minha casa que ficava a trinta passos dali.
Ela aceitou de imediato.
Já em casa depois que organizei as compras, deixei a velhinha acomodada na sala de estar e me dirigi a cozinha para preparar o café.
A chaleira havia começado o seu chiado irritante quando senti algo gélido e firme em minhas costelas.

 Congelei.

 Passou-se dois segundos até que eu ouvisse o anúncio de que aquilo era um assalto.

Não reagi. Me mantive em estado de choque.

Minhas mãos foram amarradas nas costas e meus lábios selados com uma fita adesiva. Eu ajoelhei junto ao fogão com o chiado da chaleira continuando a me irritar os ouvidos. Lágrimas escorriam dos meus olhos enquanto eu ouvia minha casa sendo revirada;eu sabia que ela acharia o que estava procurando em questão de segundos,o dinheiro da semana ainda não havia sido depositado no banco.
Ouvi um grande estrondo da porta da frente batendo e em seguida um silêncio desesperador. A raiva tomou conta de mim.

Como eu pude ser tão inocente e idiota.___ me perguntei enquanto derramava mais lágrimas.

Duas horas depois uma amiga chegou e telefonamos para polícia que trinta minutos depois bateu em minha casa afim de me avisar que o bandido fugira.

Como assim o bandido fugiu. Não estamos falando da mesma pessoa Sr. Policial.___ argumentei eu.
___ Sim senhora;estamos a falar da mesma pessoa.___ me garante ele e continua a me explicar:
___ A bonita senhora que a assaltou na verdade é um bandido que queremos pegar a muito tempo. O golpe que sofreste é muito conhecido como o Golpe da Velhinha.

Senti a raiva tomar -me novamente.


*Dani Cristina

Até um novo palavrear;
Sucesso...
Um Abraço!!!

3 comentários:

Ana Bailune disse...

Envolvente conto!
Não se pode confiar em ninguém, muito menos em velhinhas de batom vermelho...

Arco-Íris de Frida disse...

Ah... batom vermelho é tao bonito... e velhinhas simpaticas nos lembram nossas avos... o problema é que nunca conseguimos associar a velhice a algo ruim...

Beijos...

PAULO TAMBURRO. disse...



kkkkkkkkkkkkkkk,o mundo acabou!!!

Um abração carioca.